quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

À Procura da Estabilidade


Deixei de pertencer ao extenso número de desempregados deste país, numa altura em que de acordo com os dados tornados públicos pelo Gabinete de Estatística da União Europeia, o desemprego em Portugal atingiu os 10,2%.
Passei por um período de 38 meses que representou um duro golpe difícil de ultrapassar até porque mais elementos do meu agregado familiar se encontravam na mesma situação.
Foi um tempo em que apesar da difícil situação, nunca deixei de cumprir com os compromissos e responsabilidades adquiridas, nunca me deixei abater pela situação e nunca me entreguei ao absentismo, procurando das várias formas ao meu alcance colmatar as dificuldades surgidas e até aproveitei para melhorar o nível dos meus conhecimentos gerais e académicos, conhecer gente muito interessante e aumentar o número dos meus amigos.
Mesmo assim, não foi fácil gerir um tempo em que de alguma forma por vezes me senti marginalizado, por parte de uma sociedade que apesar de conhecer a realidade, olha para o lado. Enviava currículos que não tinham resposta ou quando as tinham , eram demasiado evasivas, procurei de porta a porta, apresentar a minha disponibilidade e experiência para encontrar uma saída, mas apenas recebia sinais de alguma compreensão e alguns sorrisos amarelados. Tive de fazer prova efectiva de procura de emprego e apresentações quinzenais como se tivesse cometido alguma ilegalidade pelo facto de ter sido abruptamente empurrado para a situação, enquanto alguns com rendimentos acima da média recebem apoios de vária ordem, sem qualquer tipo de control.
Aos vinte e um anos vi os meus objectivos profissionais e académicos interrompidos por força de me terem enviado para uma guerra que ainda hoje deixa imensas marcas numa parte significativa da sociedade portuguesa.
Aos cinquenta e seis anos, novo golpe na estabilidade pessoal e familiar, passei a ser designado por "Desempregado de longa duração" e agora muito perto dos sessenta, é quase como recomeçar quase tudo de novo porque só quem passa por situação semelhante pode imaginar as mazelas que a situação deixa e que precisam de ser tratadas.
A taxa de desemprego acima referida atinge sobretudo os jovens até aos vinte e cinco anos que representam cerca de 20% dos desempregados.
È aqui que pode residir o maior receio pelo futuro dos jovens e do país, jovens que perante as actuais perspectivas se vêm forçados a emigrar, procurando noutros países saídas que não encontram em Portugal.
Enquanto isto Portugal continua absorvido por demasiados casos pendentes na justiça, “Casa PiaFreeport” “BPP” “BPN” “Face Oculta”, são apenas alguns exemplos de preocupação não apenas para o cidadão comum, pois até alguns ex políticos já manifestaram extrema preocupação e suspeitas sobre a justiça portuguesa.
Receio que ao longo do tempo em que se arrastam todos estes processos se vão apagando marcas importantes e que no final a montanha tenha parido um rato.
Estamos em Dezembro e alguns vão passar bem ao lado da realidade distraídos com a pompa resultante da organização da cimeira Ibero-Americana, da entrada em vigor do tratado de Lisboa, com o imenso espaço dedicado aos grandes confrontos futebolísticos e com a euforia e celebrações das festividades que se aproximam.
Estejamos atentos porque momentos muito difíceis vêem aí, provavelmente nos próximos anos haverá países Europeus à beira da banca rota e difícil será a médio prazo Portugal não voltar a estar envolvido noutro conflito bélico.

1 comentário:

  1. Caro amigo Branco,Excelente artigo! Mas tenho a informar que quando tu deixaste de contar para as estatísticas dos desempregados em Portugal entrei eu. No dia 01/12/2009 deixei de ser pessoa e passei a ser mais um número no Índice do Desemprego em Portugal. Com 61 anos de Idade e 41 anos de carreira contributiva, velho e de cabelos brancos, com o desgaste de uma Guerra Colonial em cima, sou obrigado a fazer o mesmo percurso que os mais novos, à procura do primeiro ou do segundo emprego. Hoje já andei a correr Faro de papel na mão, à procura de Emprego, como mandam as normas, tenho de ter 3 Entidades Patronais que me confirmem que estive lá à procura de Emprego, e apresentações quinzenais na Junta de Freguesia. Como se fosse um criminoso com apresentações periódicas. Sinto-me ridicularizado e maltratado como português e como ser humano. Ontem tu e hoje eu, vidas profissionais idênticas e, por ironia do destino, até cumprimos a Guerra Colonial juntos para "servir a Pátria", essa mesma Pátria que agora nos utiliza como objectos descartáveis. É assim que é tratada nossa geração. Não seria mais justo, mais digno, e da mais elementar justiça, que os nossos governantes olhassem para a nossa classe etária, que tanto deu ao país, e legislassem no sentido de permitir a quem tem mais de 60 anos de idade e uma carreira contributiva que já ultrapassa os limites, fosse concedida a reforma sem penalizações?
    Parreira

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