segunda-feira, 12 de outubro de 2009

DESFRUTAR LISBOA


No momento em que acabaram de se realizar mais umas eleições autárquicas que a nível nacional praticamente terminaram com a vitória da clientela habitual e apenas só com três bons resultados:A não eleição de Fátima Felgueiras, Narciso Miranda e de Adelino Ferreira Torres, resolvi dedicar um pouco deste espaço às minhas origens, à minha cidade Lisboa.
Sou um alfacinha com grande paixão pela cidade onde nasci e sempre vivi quer pelos seus contrastes,quer pela sua luz e beleza natural mas acima de tudo pela sua gente, aquela população genuína habitante dos vários bairros típicos com quem tive o previlégio de conviver em alguns períodos da minha juventude.
Nos últimos anos, tenho exercido com maior regularidade a minha cidadania activa junto dos diversos organismos responsáveis pela boa gestão da cidade, através de sugestões, pedidos de informação ou reclamações que pontualmente coloco aos vários pelouros ou ao Gabinete de Apoio ao Munícipe, contactos que têm obtido alguns resultados positivos.
Cada vez mais é importante que exijamos junto do poder local, as melhores condições para que todos possamos desfrutar da cidade onde vivemos.
Por mim, estou disposto a ficar cada vez mais atento e a reclamar tudo aquilo que quero e não quero para a minha cidade.
Quero uma cidade que preserve a parte histórica que necessita de algum cuidado para que tanto portugueses como estrangeiros possam usufruir de uma das nossas maiores riquezas culturais.
Quero uma cidade onde a palavra mobilidade não seja apenas uma mera intenção, mas que efectivamente seja aplicada em todos os locais que pelas mais diversas razões são obstáculos enormes para todos os peões e em particular para aqueles que de uma forma ou de outra vivem com com limitações de diversa ordem.
Quero uma cidade onde seja posto em prática o famoso”Plano de Recuperação da Baixa” e onde os prédios com andares devolutos de aspecto desolador e ameaçando perigo eminente possam ser requalificados de forma a poderem ser habitados por jovens casais e com c ondições favoraveis para que o coração da cidade volte a ter a vida de outros tempos e não se torne após as dezoito horas uma zona quase fantasma e com grandes problemas de segurança.
Quero uma cidade onde os espaços verdes sejam preservados e recuperados proporcionando aos jovens e aos menos jovens, usufruirem de momentos ao ar livre aproveitando as características excelentes do nosso clima durante um grande período do ano.
Não quero uma cidade de ruas com falta de limpeza e onde se alojam a qualquer hora do dia dezenas de sem-abrigo junto de edifícios e monumentos que são fotografados por turistas que levam uma imagem degradante da cidade e do país.
Não quero uma cidade onde nalguns casos a recolha do lixo é feita a horas impróprias e em condições deficientes.
Não quero uma cidade onde a Avenida da Liberdade, cartão de visita da capital, tenha os seus jardins degradados e a precisarem de uma requalificação urgente.
Não quero uma cidade onde o importante jardim do Campo Grande apresente um aspecto extremamente desolador e onde jovens e idosos se viram privados de frequentarem as piscinas e que agora tem anunciado a abertura de um concurso internacional para a sua recuperação.
Não quero uma cidade que tem os índices de poluição atmosférica das piores do país e da Europa fruto de uma política incorrecta na gestão do trânsito automóvel.
"Obra a obra Lisboa melhora” ou “Nós cumprimos”, foram alguns dos slogans que invadiram a cidade na última campanha eleitoral, vamos esperar que possam fazer o seu trabalho cumprindo com o programa apresentado, de contrário podem contar com a minha permanente atenção para denunciar o que entender não estar certo.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mantenhas"Saudades"

















Poesia foi durante muito tempo uma das primeiras formas de expressão literária contemporânea da Guiné-bissau.
Com a independência surge uma vaga enorme de jovens poetas em cujas obras estão bem patentes o espírito revolucionário e social.
Escravatura e repressão, são temas igualmente privilegiados por alguns desses autores que apelam à construção da nação e evocando a liberdade.
Só muito recentemente despertei para a poesia africana e com particular atenção para a que se faz na Guiné-bissau.
Numa das minhas pesquisas sobre o tema encontrei um poema de autoria do compositor Zé Manel que não resisto em transcrever e partilhar com os meus amigos, porque me fez voltar a recordar momentos vividos e dos quais continuo a ter imensas saudades.


Batucada na noite




Bissau cresce

quando o soldesce

vem com o fio da noite

e só adormece

quando amanhece


O alcool

e o week-end

inflamam corpos

cheios de adornos


Na noite

há insónias

e sónias de muitos nomes

não é só o mote

aqui há funky

há merengada

e antilhesas na madrugada


Lufadas de amor

moldam corpos

suarentos de ardor

há um saracoteio

permanente

na passerelle da noite

sedas flutuantes

coxas remexendo

num sincopado

que dá síncope


O odor

mastiga o ar

sem pudor mistura-se

confunde-se

catinga

chanel

paco rabane

água cheiro

suor

e dior

ça va comme ça

o old scotch

dá o toque final

é fatal

afinal porque não


A batucada cresce

abre o espaço

a cidade não dorme