Poesia foi durante muito tempo uma das primeiras formas de expressão literária contemporânea da Guiné-bissau.
Com a independência surge uma vaga enorme de jovens poetas em cujas obras estão bem patentes o espírito revolucionário e social.
Escravatura e repressão, são temas igualmente privilegiados por alguns desses autores que apelam à construção da nação e evocando a liberdade.
Só muito recentemente despertei para a poesia africana e com particular atenção para a que se faz na Guiné-bissau.
Numa das minhas pesquisas sobre o tema encontrei um poema de autoria do compositor Zé Manel que não resisto em transcrever e partilhar com os meus amigos, porque me fez voltar a recordar momentos vividos e dos quais continuo a ter imensas saudades.
Batucada na noite
Bissau cresce
quando o soldesce
vem com o fio da noite
e só adormece
quando amanhece
O alcool
e o week-end
inflamam corpos
cheios de adornos
Na noite
há insónias
e sónias de muitos nomes
não é só o mote
aqui há funky
há merengada
e antilhesas na madrugada
Lufadas de amor
moldam corpos
suarentos de ardor
há um saracoteio
permanente
na passerelle da noite
sedas flutuantes
coxas remexendo
num sincopado
que dá síncope
O odor
mastiga o ar
sem pudor mistura-se
confunde-se
catinga
chanel
paco rabane
água cheiro
suor
e dior
ça va comme ça
o old scotch
dá o toque final
é fatal
afinal porque não
A batucada cresce
abre o espaço
a cidade não dorme
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